Próximo presidente do México deve romper com a
política de Calderón
"É urgente que o próximo presidente seja muito mais inteligente e eficiente que Calderón na aplicação de suas políticas contra a violência e o narcotráfico" |
Imagine que o próximo presidente do
México, depois das eleições, em seu discurso de vitória no primeiro domingo de
julho, à noite, dissesse o seguinte em frente ao monumento do Anjo da
Independência: “Eu prometo que nos próximos seis anos teremos pelo menos mais
50 mil mortos e a violência do narcotráfico continuará fora de controle. Graças
ao seu voto.”
Absurdo? Sem dúvida. Nenhum candidato
quer repetir o pior do presidente que está saindo. A primeira coisa que o
próximo presidente do México precisa fazer é, precisamente, não ser outro
Felipe Calderón.
Não, não estou propondo negociar com
os traficantes. Claro que não. Tampouco questiono a coragem ou a moral de
Calderón ao enfrentar os carteis de drogas. O atual presidente do México está
certo ao lutar contra o narcotráfico e a violência. Mas seus resultados são
espantosos. A execução dessa política é terrível. Está reprovado.
É urgente que o próximo presidente
seja muito mais inteligente e eficiente que Calderón na aplicação de suas
políticas contra a violência e o narcotráfico. A inteligência mata a teimosia.
As boas intenções não bastam.
Os números dizem quase tudo. O
próprio governo de Calderón admite que 47.515 vidas foram perdidas desde que
lançou sua ofensiva dirigida pelos militares em 2006 (incluindo o número
impressionante de 12.903 vidas perdidas somente nos primeiros nove meses de
2011). Mas, segundo informações do The New York Times, esses números talvez
careçam de exatidão. A agência mexicana do censo reportou 67.500 homicídios no
México somente entre 2007 e 2010, embora seja muito difícil determinar quantos
estão relacionados com a violência do narcotráfico, segundo o Times. Qualquer
um que veja esses números deve necessariamente chegar à conclusão de que a
ofensiva foi um fracasso total.
O governo de Calderón insiste que a
maioria dos mortos são criminosos. Mas não tem nada para sustentar seu
argumento e seus informes não são confiáveis. As dezenas de pessoas mortas num
cassino de Monterrey em agosto passado, quando assassinos armados irromperam no
local e o incendiaram, não eram criminosos. As pessoas inocentes assassinadas
em Acapulco, Guadalajara, Veracruz e Cidade do México – cidades que, até há
pouco tempo, eram relativamente pacíficas – não eram criminosos.
O problema é que a execução das
estratégias e políticas de Calderón foi desastrosa. O próximo presidente deve
reconhecer que as ideias de Calderón, por nobres que sejam, não ajudaram a
reduzir o domínio da violência que sufoca o México.
A principal fraqueza dos três
candidatos do Partido da Ação Nacional à presidência – Josefina Vázquez Mota,
Santiago Creel e Ernesto Cordero – é sua incapacidade de romper com Calderón.
Não se atrevem. Têm medo da ira presidencial e das represálias dentro do
partido. Mas se não o fizerem, um deles ganhará a candidatura presidencial do
Partido da Ação Nacional e perderá a eleição geral. Os mexicanos não querem
outro Calderón na presidência.
Também me surpreende que os
candidatos da oposição – Enrique Peña Nieto do Partido Revoluciário
Institucional e Andrés Manuel López Obrador do Partido da Revolução Democrática
– suavizaram suas críticas às falidas políticas de Calderón contra o
narcotráfico e não propuseram nada diametralmente oposto.
Isso é uma infelicidade. Os dados
mostram que a violência no México está aumentando e que os carteis de drogas
controlam cada vez mais territórios. Cada vez que prendem um chefe importante,
aparecem mais dois ou três. Por quê? Porque os Estados Unidos, o maior mercado
dos carteis, continuam comprando e consumindo seus produtos, e nada indica que
isso vá mudar.
Além de não corrigir seu rumo, o que
incomoda no estilo pessoal de governar de Calderón é que ele não foi claro nem
direto sobre seus planos logo que chegou à presidência. “Serei o presidente do
emprego”, disse-me numa entrevista como candidato em maio de 2006. Bom, não foi
o presidente do emprego e, em vez disso, transformou-se no presidente dos
mortos. Como candidato prometeu ser “um presidente com uma mão firme”, mas
nunca explicou o que queria dizer com “uma mão firme”. Nunca disse que
colocaria o exército nas ruas nem que lutaria contra os traficantes com uma
polícia corrupta e inepta.
Por isso, não devemos cometer o mesmo
erro duas vezes. Como jornalistas e como eleitores devemos exigir aos
candidatos que expliquem, claramente, qual será seu plano de governo. E isso
implica que digam, desde já, que vão romper com Calderón.
Não podemos nos dar o luxo de ter
outro presidente de 50 mil ou 60 mil mortos. O pior que pode acontecer no
México é que os próximos seis anos sejam de mais do mesmo.
Tradutor: Eloise De
Vylder
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