segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

"Um romance sangüíneo como o bebop"

Um livro perigoso, que cativa pela insubordinação, pela valorização do comportamento desregrado, esse mesmo que parece já não caber mais em nossa sociedade contemporânea; é assim que os criticos literarios do mundo descrevem Rayuela ou O Jogo da Amarelinha, titulo da edição brasileira. Muito já se escreveu sobre este livro e sobre o seu autor, o escritor argentino Julio Cortázar. O livro foi sucesso imediato de público e de crítica ao ser lançado, em 1963, e a qualidade mais destacada pelos comentaristas é sempre a multiplicidade de leituras que o texto é capaz de proporcionar.
Ele é uma obra aberta, um romance que pode ser desmontado pelo leitor, e que dá a liberdade poucas vezes concedida a alguém de refazer a seqüência de seus capítulos.
E para sentir o gosto das sedutoras palavras de Cortázar, leia o trecho abaixo e instigue-se nessa aluciante descrição do ato de sedução entre dois corpos.

"Toco tus labios con un toque de un dedo el contorno de su boca, deseo señalar a su boca como si saliera de mi mano como si fuera la primera vez que su boca es y sólo entreabrisse me cierro los ojos para deshacerlo todo y empezar de nuevo. Yo nací, a la vez, quiero tu boca, tu boca, mi mano y yo elegimos para dibujar la cara, una boca de todos los elegidos, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano en su cara y que, por una oportunidad, no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano desenha.Tu me miras, me miras de cerca, más de cerca y entonces jugamos al cíclope, cuando veremos en cerca y nuestros ojos se agrandan, se acerca, se superponen y están buscando cíclope, la respiración indistinto, sus bocas son y luchar débilmente, mordiéndose los labios, un poco de apoyo del silbato , jugando en sus cuevas, donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un gran silencio. Entonces mis manos buscan ahogar en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, fragancia animada, de oscuro. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible al mismo tiempo absorber el aliento, esa instantánea muerte es bella. Y ya que sólo hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua."

Tradução:
Toco a tua boca, com um dedo toco o contorno da tua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a tua boca se entreabrisse e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que a minha mão escolheu e te desenha no rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenhá-la com minha mão em teu rosto e que por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a tua boca que sorri debaixo daquela que a minha mão te desenha.Tu me olhas, de perto tu me olhas, cada vez mais de perto e, então, brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais perto e nossos olhos se tornam maiores, aproximam-se, sobrepõem-se e os cíclopes se olham, respirando indistintas, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se nos teus cabelos, acariciar lentamente a profundidade do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E, se nos mordemos, a dor é doce; e, se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu te sinto tremular contra mim, como uma lua na água.

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